Talvez perdemos tempo demais em nossas vidas procurando culpados para tudo o que nos acontece ou não. Se temos insônia, se temos dor de estômago, se temos tristeza, se temos ansiedade, falta de dinheiro, se temos dor de cabeça e até de cotovelo. Este, o culpado, é monstruoso, maldoso, repugnante, é um ser insensível e que só existe pra nos prejudicar. Se tudo vai mal se cria um culpado, ou mais, ou até mesmo vários. Seus nomes podem variar. O tempo é o maior vilão e contribui com algumas variações: falta de tempo, tempo chuvoso, tempo frio ou calor, tempo demais, tempo de menos. O certo é que o tempo é o maior culpado. Se eu tivesse mais tempo leria mais, escutaria mais, aprenderia outras línguas, dançaria flamenco. Se não tivesse chovendo correria no parque, me perderia nas vitrines e nas esquinas e nas conversas fiadas e afinadas. Se não tivesse frio contemplaria o primeiro raio de sol, levantaria cedo só pra pegar de surpresa a cidade sonolenta. Se não tivesse calor me aconchegaria nos teus braços e neste enlaço me perderia.
Mas se tudo vai bem, aí sim, o mérito é nosso. Foi eu quem lutei, que me esforcei, que ralei, suei, implorei, rezei, e conquistei.
Ah, como somos estranhos! A culpa é desse mundo caduco, da violência, da televisão, do meu pai, da minha mãe, da família, do "homem cachorro", da mulher insensível... Ops, mais uma vez estou encontrando culpas, desculpas...
E se você está tentando achar um culpado por este texto medonho. Não sou eu. A culpa é do meu pensamento confuso, do sono que não vem, do salário que mal entrou e já acabou, da segunda-feira, do escrito no jornal, das "vuvuzelas", do troco que não foi dado...
Escrevendo dou um tempo. Que dura constatação: a culpa mora aqui. Não é vizinha. Possui nome. A culpada se reflete todo dia no espelho. Fracasso ou sucesso. Ambos moram aqui, no mesmo endereço.
Talvez perderíamos menos tempo mudando as atitudes. A culpa não é da chuva, nem do frio, nem da falta ou excesso de tempo, não é da família, nem do cafajeste: a culpa é nossa, que não observamos, que renegamos, que despistamos, que nos deslumbramos e nestes "-amos" nos "ferramos". E de quem é a culpa?
Procura-se.
Sandra Lopes - 28/06/2010
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