segunda-feira, 28 de junho de 2010

Procura-se um culpado

Talvez perdemos tempo demais em nossas vidas procurando culpados para tudo o que nos acontece ou não. Se temos insônia, se temos dor de estômago, se temos tristeza, se temos ansiedade, falta de dinheiro, se temos dor de cabeça e até de cotovelo. Este, o culpado, é monstruoso, maldoso, repugnante, é um ser insensível e que só existe pra nos prejudicar. Se tudo vai mal se cria um culpado, ou mais, ou até mesmo vários. Seus nomes podem variar. O tempo é o maior vilão e contribui com algumas variações: falta de tempo, tempo chuvoso, tempo frio ou calor, tempo demais, tempo de menos. O certo é que o tempo é o maior culpado. Se eu tivesse mais tempo leria mais, escutaria mais, aprenderia outras línguas, dançaria flamenco. Se não tivesse chovendo correria no parque, me perderia nas vitrines e nas esquinas e nas conversas fiadas e afinadas. Se não tivesse frio contemplaria o primeiro raio de sol, levantaria cedo só pra pegar de surpresa a cidade sonolenta. Se não tivesse calor me aconchegaria nos teus braços e neste enlaço me perderia.
Mas se tudo vai bem, aí sim, o mérito é nosso. Foi eu quem lutei, que me esforcei, que ralei, suei, implorei, rezei, e conquistei.
Ah, como somos estranhos! A culpa é desse mundo caduco, da violência, da televisão, do meu pai, da minha mãe, da família, do "homem cachorro", da mulher insensível... Ops, mais uma vez estou encontrando culpas, desculpas...
E se você está tentando achar um culpado por este texto medonho. Não sou eu. A culpa é do meu pensamento confuso, do sono que não vem, do salário que mal entrou e já acabou, da segunda-feira, do escrito no jornal, das "vuvuzelas", do troco que não foi dado...
Escrevendo dou um tempo. Que dura constatação: a culpa mora aqui. Não é vizinha. Possui nome. A culpada se reflete todo dia no espelho. Fracasso ou sucesso. Ambos moram aqui, no mesmo endereço.
Talvez perderíamos menos tempo mudando as atitudes. A culpa não é da chuva, nem do frio, nem da falta ou excesso de tempo, não é da família, nem do cafajeste: a culpa é nossa, que não observamos, que renegamos, que despistamos, que nos deslumbramos e nestes "-amos" nos "ferramos". E de quem é a culpa?
Procura-se.
Sandra Lopes - 28/06/2010

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Fabricio carpinejar - Sou sua fã!!!

DEPOIS DE TANTO TEMPO - Fabrício Carpinejar

O maior segredo do amor não é por que amamos, mas por que deixamos de amar. Nem procure recapitular o que bebeu na noite anterior. Não tomou nada. É a ressaca da sobriedade. Um imperioso repuxo da boca. A descoberta é sutil como perder um prendedor de cabelo. Quase insignificante como um enjoo, um cansaço. A consciência surgiu por acaso, sua origem não é bem certa, de repente na hora de escovar os dentes ou ao regar as plantas ou ao atender o interfone. Não tem lógica. Saímos do centro de gravidade que nos tornava absolutamente dependente dos gestos e das atitudes do outro. Estamos livres para pensar sozinhos e, ao mesmo tempo, presos para sempre na incompreensão. O desamor é tão fulminante quanto a atração, mas com consequências embaraçosas. Como abandonar a militância, a ideologia, e não ser visto como um traidor? Como narrar o que não tem enredo e reunir sentido em frases soltas e ensimesmadas? Qualquer um vai se envergonhar de contar, trata-se de um sopro, não mais de uma voz. Não é algo para perguntar, está resolvido, fertilizado de impressões. Por que é duro sair de casa sem um motivo. Duro encarar quem amamos tanto tempo sem oferecer nenhuma explicação adequada e convincente para o fim. Duro conversar sem mesmo entender como ocorreu a passagem de lado, de uma fidelidade extrema e desesperada à indiferença. Duro executar a tarefa, sabendo que alguém aguarda ansiosamente uma palavra para desaguar os traços, uma palavra onde possa colocar a culpa e amaldiçoar nosso nome. Esse alguém precisa da palavra que não temos, como um pai ou uma mãe do corpo desaparecido do filho. Vive-se a tragédia de não ter uma tragédia para desencadear a briga. Não haverá uma causa específica para a distância. Fugiremos do contato visual, por não corresponder mais às expectativas. Receberemos a fama de mentiroso, de fraco, de que estamos escondendo a verdade. Muitos forçam uma causa, para descontar o preço da loucura. Muitos revisam os últimos movimentos para justificar o término. Muitos mentem para não passar trabalho. Muitos tentam diminuir a injustiça inventando fatos. O que aumenta a penumbra é que incrivelmente nunca mais encontraremos nosso par, apesar de viver na mesma cidade, frequentar o mesmo bairro, dividir gostos semelhantes. Nenhum esbarrão no mercado ou no banco. Os amigos em comum apagam as pistas. Não dá para compreender se mudamos os hábitos ou os hábitos não nos pertenciam mesmo e queríamos agradar pensando que eram nossos. Minha namorada reviu seu ex num bar. Ele estava acuado com o imprevisto, cumprimentou nervoso ao invés de ajudar o rosto a sorrir. Ela foi ágil, venceu as cadeiras de ferro, as mesas truncadas, esforçou seu quadril para criar interesse e perguntou o que ele andava fazendo. Eu assisti ao enlace esperando o momento de ser apresentado. Sondei o que passou pela cabeça de Cínthya: aquele rapaz simpático, de cabelos compridos e óculos ingênuos, foi um dia seu melhor, que ela também foi um dia o melhor dele. Ela tinha que mostrar ternura e não me ferir de ciúme. Ele tinha que apresentar confiança e não se abalar comigo. A emoção ficou represada ou talvez já houvesse secado. A questão é que não se falavam durante cinco anos. Idealizaram um reencontro que não aconteceu. Não existe justiça depois da separação.

Martha Medeiros - Sou fã!!!!



Eu, Modo de Usar:
Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sozinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar às vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sem título

A cada amanhecer, um sorriso branco, no escuro do meu eu.
Sentimentos confusos. Tanta solidão.
Até quando? Talvez a exaustão.
A urgência de uma vida bem vivida,
A luz está distante, mas está
Às vezes ofusca o meu olhar ora se distancia, mas sei:
Ela está lá.
Aqui não é o meu lugar.
A cada amanhecer, um olhar vago, no contexto que criei.
Sentimentos confusos. Tanta solidão.
Até quando? Talvez até alcançar a tua mão.
Sempre estendida
Sempre merecida
A cada amanhecer, passos sem rumo, no caminho que escolhi.
Sentimentos confusos. Tanta solidão.
Para onde? Até quando?
Talvez demore,
Talvez eu adormeça fatigado pela busca
A luz está distante, mas está.
Aqui não é o meu lugar.
Ela está lá, mas está.

Sandra Lopes / escrito em 2008

terça-feira, 15 de junho de 2010

Banalidades

Banalidades


Mil coisas na cabeça, tarefas para cumprir, com tudo isso, fui parar em uma fila do crediário de uma loja. Sabe essas lojas populares que existem por toda parte? Leve seu produto e só pague a perder de vista, e perca também o juízo, pois tantas facilidades pesam muito no bolso. Enfim, parei ali para fazer um favor a uma amiga. Sou um tanto impaciente e a demora no atendimento já estava me dando urticária. A movimentação das pessoas, as conversas, os produtos me tiraram do foco principal: pegar o produto e sair.
Distraí-me observando a concentração dos consumidores, o brilho nos olhos por terem conseguido aquilo que tanto desejam ou que nem desejam tanto. Com tanto apelo ao consumo, às vezes fica difícil sabermos se compramos por necessidade ou por termos sido influenciados pelo modismo, pelo materialismo ou até mesmo para suprirmos alguma carência - Estou tão triste hoje, preciso me satisfazer com uma roupa nova, com o celular da hora, com o último lançamento - O caso é que logo em seguida o vazio pode ser tão grande quanto o bolso de quem comprou por impulso.
Se dinheiro traz felicidade eu não sei, isto é algo subjetivo demais para se ter uma resposta pronta, pois sempre haverá alguém tentando provar por a mais b que, no mínimo, é um mal necessário. Sei que a vida com ele se torna muito mais fácil e que muitos tormentos são evitados, mas que está longe de ser o passaporte para uma vida feliz.
Existem coisas que nos fazem perder o rumo. A cena me chama a atenção: uma senhora de meia idade a minha frente está no caixa fazendo o seu crediário. Atrás dela a fila se avoluma cada vez mais, as atendentes agitadas procuram a forma de serem ágeis, e com a ajuda da tecnologia isso se torna mais fácil, não temos dúvidas quanto a isso. Os papéis estão prontos. Finalmente! Penso eu. É só a senhora assinar e a procissão continuar. Foi nesta hora que percebi o contraste que há entre a tecnologia, entre a incrível facilidade que temos ao acesso a milhares de informações em pouco tempo, vi o que não via há muito tempo, uma “almofadinha” de carimbo sair de trás do balcão juntamente com o pedido de desculpas da moça que atendia. Sim, a senhora de meia idade era analfabeta, não assinava, colocou o dedo na tinta e deixou impresso o seu dedo polegar.
O primeiro impulso foi pensar que, uma pessoa hoje não saber escrever nem seu próprio nome, significa comodismo, falta de vontade. Vi a naturalidade com que ela colocou o dedo e o deixou ali para que borrassem as folhas tantas vezes fosse preciso. Esse ato mecânico para ela me fez ver que ela deixara ali muito mais que uma impressão, deixou a sua dignidade, o seu orgulho, a sua simplicidade, a forma como a vida lhe fora até agora e que provavelmente assim será até o fim. A tinta preta é a comprovação da ignorância, da humilhação, é a prova do quanto fora roubada. Roubaram-lhe a liberdade. Roubaram-lhe os sonhos. Roubaram-lhe os pés, as mãos, a visão. E cega seguiu a vida. Não questionou, não se impôs, não se revoltou. Acostumara-se a trocar a sua identidade por um simples borrão.
E, assim, cumpri ali o que havia ido fazer, mas certamente saí diferente de como entrara. Saí agradecida pela educação que recebi, pela capacidade de valorizar as aprendizagens, até mesmo em uma fila de crediário de uma loja popular.

domingo, 13 de junho de 2010

VIAGEM

Atendendo a pedidos...(rsrsrsrs)

Viagem

Ela se separou após dois anos da separação. Calma, eu explico. Claro que não estou falando de uma relação qualquer, estou falando de uma união que fora intensa, muito mais que a união de dois corpos. Não, nada de banalização. Estou falando de duas pessoas que se entendiam, que se completavam, que possuíam os mesmos gostos e sonhos, que vislumbravam o mesmo caminho, os assuntos eram inesgotáveis, mesmo em silêncio se entediam. Pelo menos era assim até certo ponto, era assim que ela via esta união.
A maneira como se deu o encontro foi algo incrível. Ela havia ido passar o final de semana na sua terra natal, um lugar pacato e sem novidades. Vivera lá do nascimento até os seus vinte e quatro anos, e um ano depois retornou apenas a passeio, foi até lá para rever os amigos e familiares. Nunca gostou de morar naquela cidade. Ele estava ali a trabalho, e também, não gostava nenhum pouco da calmaria em demasia dali. Aparentemente naquela noite não aconteceria nada incomum a não ser o fato de amigos estarem comemorando e terem saído para se divertirem juntos, e ele, entediado, ter saído com alguns colegas de trabalho.
Duas pessoas de pontos tão diferentes, o que tinham em comum era o fato de estarem em um mesmo local atraídos pela diversão. Não demorou muito para ele reparar nela, percebeu que nunca havia avistado ela por ali, se sentiu atraído e não fez rodeios. Os olhos se fitaram como se fosse possível apreender aquele momento e levá-lo intocável a posterioridade, os braços se entrelaçaram numa comunhão perfeita, tinham muitas coisas a dizer um para o outro e de pronto surgiu a intimidade. Ela lhe contou fatos de sua vida que não contava nem para a melhor amiga, ele lhe falou de tudo um pouco, inclusive que estava de aniversário naquele dia. Ela, segundo ele, estava sendo o seu melhor presente, e por algum tempo foi.
Já sei, deves estar pensando porque houve então a separação? Sim, é difícil de entender. Apesar de toda afinidade, depois de algum tempo, compreende-se que ambos se achavam em sintonias diferentes e que maturidade não é só do corpo, mas também da alma. Há certas coisas que não temos como lutar contra. Por algum tempo ela pensou que pudesse. O primeiro ímpeto foi de fúria, depois inconformidade, desespero, dor que chegou até ser dor física. De repente se apegou a uma esperança: reconciliação.
Aí é que reside a armadilha, pois não nos damos conta de que, assim como o tempo pode ser um forte aliado, ele pode ser traiçoeiro, porque ficamos esperando que ele dê um jeito e alimentamos dia após dia esta suposição baseada nos próprios sentimentos.
Nos primeiros meses se alimentou de promessas e muitas visitas. Assim como ela, ele sofria. Ele culpou o destino, ela o julgou fraco. Ele jurou que a amava, ela sempre sucumbia. Ele procurava solução para o irremediável, ela passou a crer em milagres. Não havia dúvidas, se amavam. Amavam-se, se amavam e sofriam.
Quanto mais o tempo foi passando mais tinha noção da distância. As conversas aos poucos foram se tornando formais. A amizade se manteve, mais por sentimento de culpa dele do que qualquer outra coisa, culpa envergonhada, culpa imposta. Ah! Claro, ele insistia em lhe dizer que a amava. Ela permaneceu no mesmo lugar preservando lembranças, principalmente as boas. Saiu, dançou, sorriu amarelo, conquistou amizades e se desfez de algumas, trabalhou, trabalhou e trabalhou. Assim, se tornou uma presa fácil para o seu orgulho de homem, o pouco que dava de si a mantinha fiel. Ela não ambicionava mais nada, viver se resumiu em sobreviver.
Os contatos esporádicos nutriam a saudade sentida. Ele se revigorava, ela se anulava. Quanto tempo isso? Desculpe-me, esqueci de lhe situar. Havia se passado mais de um ano. Tudo bem: idiota, boba, iludida; não se culpe por julgá-la assim, é dessa forma que ela se via também.
Não deixou de sair, mais por imposição dos amigos do que pela própria vontade. Conheceu uma pessoa, não o levou a sério, não cabe aqui citar a terceira pessoa. Embora ele tivesse tentado quebrar a barreira, não conseguiu. Quis atingi-la, quis afastá-la da solidão. Tentou, mas não conseguiu. Eram diferentes demais. Ela o comparava sem ao menos ele saber. Difícil competição. Com isso ela passou a sofrer duplamente, sentia-se impossibilitada, um ser incapaz, sem sentimentos. Começou a ter enxaquecas que nunca tivera e criar desculpas indesculpáveis, até criar coragem e dar fim ao que nunca começou.
Estava novamente no mesmo ponto, aliás, nem havia saído. Queria respostas para muitas perguntas, buscava e não encontrava. Não estava preparada para saber. No entanto, tinha anseios, percebia que a vida passava por entre os dedos tal qual areia fina. Espantou-se com a urgência de viver, com a urgência da maternidade, com os dias coloridos, com o riso descomprometido e verdadeiro, com a vontade de andar de mãos dadas numa tarde de domingo. Voltou-se para si, uma viagem interna, uma busca onde as respostas sempre estiveram. Visitou compartimentos esquecidos, reavivou detalhes, sentiu dores há muito já sentidas, reconheceu os seus erros e pediu perdão por eles, perdoou, entendeu o sentido do termo causa e efeito e percebeu que nem tudo o que pintara era perfeito.
Embora consciente, estava difícil se livrar do passado, cenário perfeito construído com bases sólidas e intangíveis, segundo ela. Voltou-se para ele agora com outros olhos, ainda com esperança de manter o que sempre cultivara, mas nada permanecia no lugar, as cores perfeitas estavam escassas, corroídas, borradas pelo tempo e pela mágoa.
As engrenagens aos poucos voltavam a funcionar, giravam lentamente, o primeiro impulso fora dado. Fechou a porta do desamor e a trancou com as chaves da memória, afinal não há como se livrar em definitivo de tamanha dor, mas há como trancá-los no porão do esquecimento e da aprendizagem. Por fim, cobriu as paredes com tinta branca deixando-as livres para um novo colorido.
Dois anos, exatamente, foram necessários para que ela rompesse em definitivo com o que julgava perfeito. Sei que algumas perguntas passam pela sua cabeça, meu caro leitor, confesso que também sou um pouco incrédula. Será que ela vai conseguir aplicar tudo o que aprendeu, será que ela vai resistir à tentação dos sentimentos, será que se dará a chance de correr riscos, será que irá adiante depois de um possível novo fracasso? Mais uma vez lhe peço desculpas, pois não tenho as respostas, porém de uma coisa eu sei, no final desta viagem, ela saiu muito diferente do que quando ingressara.
Quanto a ele? Bom, o foco não é esse nem cabe a eu julgá-lo, mas o vejo constantemente perdido na sua indecisão, se acovardou e desistiu de tentar, busca incessantemente por ela na memória, nos sonhos, nas palavras, mas não a encontra, pois estão, agora, em estações diferentes. Ele conformado, ela pronta para viver o que mais a vida lhe reservou.
Um dia, talvez, se encontrem, não aqui. Na eternidade. Os olhos se fitarão... Feliz aniversário!


Sandra Lopes – 22/06/09

Ressaca...

Sempre que passa uma data comemorativa nos sentimos um pouco ressacados, há um bombardeio de sugestões, propagandas apelativas, imagens, associações... Não foi diferente com a data comemorada ontem: dia dos namorados. Nós solteiros, chegamos a nos sentir fora de contexto. Chegamos a pensar que a fórmula implacável da felicidade seria estar em pares. No entanto, se observarmos um pouco os casais que conhecemos, não aqueles que estão no início do relacionamento, mas aqueles que já vêm juntos por longa data, percebemos o quanto esta data os obriga, de certa forma, a terem gestos esquecidos, romantismo automático, clichês sugestionados pelas propagandas que a mídia reforçou cansativamente.
É um faz de conta que a rotina não massacra, que a palavra estúpida do dia anterior não machuca mais, que a grana não é curta e, corre-se às compras! Os comerciantes, sim, são muito felizes nesta época. Acredito que esta data seja uma data ingrata e já explico por que. Na obrigação de atender aos apelos da mídia nos sentimos obrigados a correspondê-la, ser o namorado ou a namorada perfeitos. Esquece-se que o modelo de perfeição varia de pessoa para pessoa, e de repente há um confrontamento das emoções. É, o dia dos namorados pode por fim a um namoro. Se percebe que o encantamento deste dia não sobrevive ao dia seguinte e dá-lhe rotina. E por falar no dia seguinte, 13 de junho, também rodeado de mistificações, poderíamos dizer que é o dia dos solteiros. É o dia dos que se deixaram impressionar pelo fato de não estarem com ninguém e se sentem como "peixes fora da lagoa", recorrem desesperadamente ao santo. Santo Antônio. Coitado. E o que eu digo: deixem-no em paz, ele deve já ter um peso demais sobre ele, o peso de ser um SANTO.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Renúncia

Já que hoje é dia dos namorados, posto o o texto abaixo:

Renúncia

Por amor renunciamos ao amor. Parece-nos, no mínimo, uma contradição, uma insensatez, um despropósito de quem faz tal afirmação. Peço-te que não me julgues antes mesmo de saber dos argumentos. E eu argumentarei. Talvez não seja suficiente para você, mas falo disso com propriedade. Muitos entenderão o que lhes digo, outros não, porém não é impossível, basta ler com os olhos do coração.
Falar de amor parece algo simples, eu não diria isso, para falarmos precisamos senti-lo. Não falo do amor entre pais e filhos, de irmãos, de amigos, este é inquestionável e está implicado de uma forma ou de outra. Falo do amor entre um homem e uma mulher, pelo menos é, assim, que ainda o concebo.
Movemos nossa vida em nome do amor, buscamos incessantemente por ele e nada teria sentido se não o existisse. E o que fazemos quando o encontramos? Estamos preparados para vivê-lo? Seria perfeito se este sentimento fosse o único a mover o universo. Infelizmente não é. Existem sentimentos nada nobres que também norteiam as ações humanas: a inveja, a cobiça, a traição, a vaidade, a fraqueza etc.
Bom, chega de divagações. Amor é amor, não se define apenas se sente. Não tenho a pretensão de defini-lo, deixo isto aos poetas que o fazem muito bem.
Quando o vi pela primeira vez fui arrebatada, fui nocauteada. O mais improvável aconteceu, logo eu que não acreditava que isso pudesse acontecer. Sempre fui muito racional, até mesmo no que se trata de sentimentos. Acreditava poder controlar tudo e até ali havia obtido sucesso.
Não acreditava e nem acredito em contos de fadas, em finais sempre felizes, por um lado sempre estive certa em não acreditar. Mas posso descrever o que se passou após o arrebatamento: os dias se tornaram mais leves, coloridos, um suspense diário a ser desvendado, horas e horas esperando por um simples telefonema, desejo incontrolável de ouvir a sua voz e uma contagem regressiva para o próximo encontro. O tempo é muito mais longo para quem está amando, os minutos, as horas, os dias se estendem como gatos preguiçosos na janela em um dia de sol.
O tempo é curto quanto estamos junto daquele que amamos, os minutos parecem ter menos de sessenta segundos, as horas parecem apenas poucos segundos e os dias resumidos em bem menos que vinte e quatro horas. O tempo é inimigo dos amantes.
Só entenderemos os versos de Camões – Amor é fogo que arde sem se ver... É dor que desatina sem doer... - se tivermos experimentado tal sentimento. Eu os entendo, mas não os explico. Não se explica o inexplicável, pois qualquer tentativa seria em vão, como já disse é preciso senti-lo.
Quando o tive pela primeira vez foi como se nada até então tivesse feito sentido, ou melhor, que o único sentido do antes, era ter sido a preparação para aquele momento. Passei a entender de química, a química que une dois corpos, olhos nos olhos, todos os sentidos apurados e preparados, a pele, o cheiro, o toque, a cumplicidade, o afeto, o carinho, adquiriram uma proporção imensa. Só quem ama entende o sentido completo das palavras imensidão e eternidade. Tudo ganha novas formas e buscamos a qualquer preço eternizar os momentos vividos, e os eternizamos na memória, onde nada e ninguém têm acesso a não ser nós mesmos.
Sei que deves estar se perguntando sobre a frase inicial – por amor renunciamos ao amor- como também já disse, nem todos os finais são sempre felizes, mas nem por isso deixamos de persegui-lo. Não há vida sem amor. Ele é o combustível que nos move. É a certeza de que não estamos passando por aqui à toa. É um “retrato lindo” que levamos conosco pela eternidade.
Não há espaço para o egoísmo quando se trata de amor, embora exista quem confunda amor com obsessão, amor com posse, amor com exclusividade. Não. Isso é o que chamamos de paixão. Paixão é uma doença da alma. Paixão causa descontrole. É vulcão em erupção. A paixão só é boa se tiver a pretensão de se transformar em amor.
Ao amarmos não estamos livres do sofrimento. Não há um antídoto contra os outros sentimentos nada nobres aos quais já me referi. Um dia descobrimos que o ser amado, assim como nós, também possui defeitos. Descobrimos que o mundo não é composto só por duas pessoas e que estamos cercados por outros interesses. Paixão. Egoísmo. Obsessão. Sentimo-nos encurralados. Lutamos, mas não forçamos o convívio. Amamos, mas deixamos o pássaro alçar outros voos. Sabemos que o voo será longo, será exaustivo. Poderíamos voar junto, gostaríamos de poupá-lo. Por amor voaríamos junto. Porém, é necessário que voe só. Continuamos voando sozinhos, voos rasantes e sempre retornamos ao ninho das lembranças, sempre retornamos ao que restou, resquícios de felicidade, parâmetro para reiniciarmos o nosso próprio novo voo.
Quando ele alçou seu voo o deixei ir. Necessitava ir. Os meus olhos o seguiram até desaparecer no horizonte e por algum tempo me mantive presa ali, asas aparadas, impedida de recomeçar. A natureza é sábia e tudo reconstitui. Renascemos mais fortes, tal qual a Fênix, mais preparados e amadurecidos, não deixamos de existir, não nos desfazemos do que acreditamos que seja certo e muito menos do que já vivenciamos, apenas emolduramos o bem precioso que foi.
Por amor renunciamos ao amor, por amor a nós mesmos, por amor a outra pessoa. Só quem já amou é capaz de entender. Não é uma renúncia definitiva, não desacreditamos. Não se pode desacreditar. A incredulidade é a bengala dos fracos.
Não espero pelo retorno do que já foi. Mesmo que voltasse, não seria mais o que era e o que era é o que ficou, e quem ficou já não é mais o que era. Costumamos atribuir isso à vida, às circunstâncias. Eu atribuo à evolução.



Sandra Lopes – 06/07/09
Esta poesia escrevi há mais de 1 ano...

Apogeu

Minh’alma transcende, acende
Artista que sou
Luzes, aplausos
Sorrisos espontâneos
Mente fértil, vocabulário vasto
Meu apogeu.

Incompreensível, sensível
E o que dignifica?
Dane-se a estratégia
Quero mais, uma trégua...
Mundo insano de desenganos
Brindamos

Novas pessoas, nada ao acaso
Conversa que rola.
Música boa, a boêmia renasceu
Jamais esquecida, porém escondida
Em alguém que morreu.

E por falar em morte, que triste sorte
O cenário cedeu.
Engano seu!
Luzes mais fortes,
Este é o norte.
O que é loucura?
Nada se cura?

Certo ou errado,
Ilusão criada
Jamais convencida
É aqui que nasceu.

Não sou forte,
Apenas suporto
As dores trazidas
De vidas sofridas
Afinal quem sou eu?


Sandra Lopes – 07/03/09

Primeira postagem

Bom, vamos lá!!!
Confesso que tenho este blog há algum tempo e cheguei a postar alguns de meus textos, mas fiquei enciumada. De repente muitas pessoas poderiam ler coisas minhas, comentar coisas minhas etc. Mas, 1 ano depois pensei: " e não é esta a intenção?"
Tudo começou com um desafio que lancei para uma turma de alunos, que escrevessem um diário e aí decidi compartilhar com eles um pouco de mim, ou seja, meus textos, poesias, pensamentos, desabafos, tolices... é, podem acreditar também sou tola, sonhadora, realista também e, principalmente, realista!
Tudo bem seus "pestinhas", aí está o meu blog. Podem entrar, ler, comentar. Ah! E deixem um comentário sempre que possível...

Beijos