segunda-feira, 11 de abril de 2011

Tempos modernos


O alarme soa anunciando que são onze e trinta, para quem mora em frente de uma grande fábrica de calçados este som dispensa relógio é o indicativo de que as ruas se encherão de trabalhadores a pé, de bicicletas e de carros, tornando o trânsito em um verdadeiro caos. 

A cena que vejo do alto da sacada não passa despercebida, são muitos operários que saem se acotovelando, enfileirados e alguns correndo, no desespero de chegar primeiro ao lugar onde é servido o almoço a eles. Mas, o que tem de interessante nisso tudo? Fico pensando sobre o que os diferencia dos animais irracionais? Que não se tome como ofensa, pois não consegui diferenciá-los. Mudos seguiam como máquinas ágeis a um destino certo e programado sem se importarem com o fluxo de carros.       

Passado o desespero inicial, os vejo, mais tarde, jogados pelas calçadas aproveitando o pouco tempo que lhes restam para descansar. As calçadas são para eles como redes na varanda, fica até difícil caminhar por ali. Não se percebe alegria, não se nota sonhos, vejo a massificação de um povo destinado a fazer serviços repetitivos, sem nada a pensar, sem nada a questionar, sem nada... a não ser cumprir a demanda que encherá os bolsos dos ricos patrões. 

Mais tarde, muitos deles, os recebo na sala de aula e esse comportamento se repete, existe uma grande dificuldade em fazê-los pensar e agir como seres críticos. O grande desafio como educadora é mostrar-lhes outras realidades, que é possível sonhar, que o mundo não gira só em torno de uma esteira, que é preciso ter ambição de conhecimento.

Analisando tudo isso, mentalmente agradeci pela profissão que tenho, a qual não é valorizada como deveria, mas que possui um valor inestimável na transformação da sociedade, das pessoas, do mundo. O nosso compromisso vai além de transmitir lições gramaticais, cálculos, fatos etc, o que de nada adiantam se não houver o compromisso com o ser humano em todos os aspectos.

Sei que, infelizmente, para muitos dos meus colegas, o que penso e falo não passa de um blá-blá-blá, pois muitos também não ousam sonhar, estão ali para repetir tradicionais lições e reclamar sobre as condições salariais. Para estes eu peço que não me tirem a ilusão de um mundo melhor. Temos o poder de transformar realidades, ainda que seja um processo lento, a verdade é que temos e devemos aproveitar. Peço que me permitam sonhar. Os sonhos me movem em querer sempre oferecer o melhor de mim, os meus conhecimentos e, nessa interação ensino e aprendo/aprendo e ensino que o conhecimento é a única forma de libertação. 

       


Sandra Lopes - abril/11
     

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