quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


...doce, doce, doce, a vida é um doce, um doce mel...



O Natal exerce um certo encantamento nas pessoas. Nos tornamos mais sentimentais, mais voltados para a família, para os amigos, para o ser humano. Defino a expressão verbal do momento: compartilhar. Compartilha-se alegrias, vitórias, derrotas, enfim, fazemos um balanço das nossas ações ao longo do ano prestes a findar. Esta não é uma visão pessoal, é o que observo a minha volta. Pessoalmente procuro me abstrair destas datas, aliás, nem lembro o que fiz, onde estava ou com quem estava no natal passado. Sou uma pessoa fria? Talvez. Julgue-me como quiseres. O que tenho a dizer a meu favor é que nem sempre foi assim.

Há muito não acredito em Papai Noel e na tal magia natalina, cada vez mais voltada ao consumismo. Preservo, sim, as memórias da infância. Infelizmente nem mesmo as crianças possuem mais a inocência que a data requer, o que querem, o que mais importa, é o presente ou os presentes, já não se contentam em ganhar qualquer coisa.

A infância é colorida, é cheia de sabores, tudo possui uma proporção diferente de quando somos adultos, pelo menos para mim é assim, e é por isso que digo: infelizmente as crianças de hoje são diferentes. Não as culpo, nem aos pais, os tempos é que são outros. É difícil se manter longe dos apelos consumistas. No entanto, seria cauteloso, ao meu ver, preservar ao máximo as nossas crianças de tudo isso. Vemos, hoje, miniaturas de adultos refletidas nas crianças. Cadê a pureza? Cadê a inocência? A fantasia?

Por muito tempo acreditei em cegonha, em Papai Noel, que as mães não erram, no coelhinho da páscoa e tanto mais. Atribuo a tudo isso a minha imaginação fértil. No tempo certo e, gradativamente, de acordo com minha maturidade fui ficando a par de tudo. Confesso: fiquei um tanto decepcionada, principalmente, com o fato de saber que as mães não são perfeitas, que erram como qualquer outro ser humano. Contudo, agradeço pela educação recebida, pela minha infância preservada.

Dias atrás subitamente desejei sentir novamente alguns sabores daquela época. Lembrei-me, com água na boca, do doce de laranja que uma tia fazia, e vem de lá essa preferência, mas ilusões a parte jamais vou comer igual. Não tendo o doce de laranja, me lembrei das jujubas, das maria-moles. Ah! As maria-moles, tão poucas para dividir com tantos irmãos. Ambicionava ter muito dinheiro para comprar muitas maria-moles. Qual criança hoje possui tal ambição?

Como essa vontade surgiu em horário inapropriado, pois não se vende maria-moles em qualquer lugar e a qualquer hora, fiquei esperando o dia amanhecer para ir atrás do meu objeto de desejo, e para minha surpresa as encontrei no primeiro lugar que entrei. Tão surpreso ficou, também, o vendedor diante do meu pedido e antes mesmo que me indagasse disse a ele que era pra mim mesma. Olhou-me desconfiado, pois nem aparentando grávida eu estava.

O que fazer fazer com tantas maria-moles? A primeira etapa eu já havia realizado com uma facilidade inesperada, o que já fez reduzir a vontade. O momento era solene, necessitava de estratégia. Simplesmente devorá-las. Não. Além disso havia a dúvida se mantinham o mesmo sabor, o sabor experimentado na infância. O desejo não era pelo doce. Não era pelo teor calórico; isso já demandaria um pouco de prudência. O real valor estava na memória, na saudade de outros tempos. Simplesmente devorá-las. Não.

Na dúvida, conservo as maria-moles da minha infância. Onde? Na memória inocente da criança que fui. E quanto as compradas permanecem aqui, objeto simbólico dos desejos de uma adulta buscando apego no que já lhe fez feliz.


Sandra Lopes - 20/12/2010







Um comentário:

  1. Minha doce amiga, fria você só nas horas livres que eu sei, Eu creio em papai noel, você existe e o meu presente é ler seus textos...risos!

    Realmente as coisas mudaram, mudaram as crianças e mudaram os adultos se tu acreditasse talvez... fosse diferente, eu acredito em magia, acredito no amor, acredito em ti, acredito no coelhinho da páscoa ainda vou pegar ele colocando os chocolates e se eu não pegar meus futuros filhos irão...risos! Feliz natal, se cuida adoro teus textos mesmo os mais frios vindo desta moça tão sincera!

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