sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Artificialidade

De repente acordo e me deparo com a vida passando a milhão por hora na minha frente e eu com o freio de mão puxado. Não sei quanto a você, mas eu me sinto assim, fora do compasso, peixe fora d'agua, e não é que não acompanho o ritmo frenético da humanidade, ou sigo ou sou esmagada por ele.

Prestes a completar mais um ano de existência paro pra pensar mais atentamente em algumas coisas. Acho que é normal fazermos um feedback da nossa passagem. É normal, porém não digo que seja bom. É necessário, mas não digo que seja agradável. Por que somos tão apegados a esta questão de idade? Afinal, não ouvimos sempre que o que interessa é manter o espírito jovem? Não estamos cansados de ver muitos jovenzinhos pra lá de acabados?

O que nos amedronta ou atormenta a cada aniversário que fazemos? A vida escorre por entre os dedos. De repente não possuímos mais tanta vitalidade, não possuímos a mesma agilidade de raciocínio. Será mesmo?

Apesar da evolução de ideias, do modernismo acentuado, muitos conceitos permanecem pré-históricos, principalmente no que se refere à postura humana, se é que podemos assim denominar. Nós mulheres, principalmente, somos exigidas demais. Nascemos, crescemos e quanto mais crescemos mais expectativas são criadas para cima de nós, e não são só os outros que esperam muito de nós, mas, basicamente, nós mesmas.
Quando pequenas queremos agradar aos olhos dos pais, e assim, vamos moldando a nossa personalidade, que sendo bem orientada, irá nos definir como grandes pessoas ou, se o contrário, seremos frutos dos enganos, das faltas ou dos excessos cometidos por eles e será necessário muitas terapias, tratamentos e busca de autoconhecimento para que nos tornemos conscientes da nossa importância dentro do universo.
Ao sair "na noite" experimento a sensação de me sentir deslocada do planeta. A artificialidade há tempo extrapolou os limites do corpo: sorrisos, olhares, músculos, peitões, bundões, e por aí vai. Cada um fugindo de si para chamar a atenção do outro. Ao mesmo tempo que o outro está também tão egocentrado para despertar atenção que não vê nada ao seu redor. Resumindo: todos querem ser vistos e ninguém se vê.

Poderia assim dizer que quase não há mais a possibilidade de encontrar alguém sem que nos despojemos do que realmente somos. Infelizmente é assim. Devemos parecer exatamente como os outros querem que pareçamos?

De uma coisa tenho certeza: vou continuar me sentindo deslocada do planeta, me recuso em aceitar esta artificialidade das relações, entretanto, ainda tenho esperança de que nem todas as pessoas estejam satisfeitas com essa realidade.

O tempo passa e o que hoje está tudo em cima, mais cedo ou mais tarde, a lei da gravidade agirá implacavelmente. Ou aceitamos estas mudanças que o tempo provoca ou seremos um "bando" de mulheres e homens infláveis empilhados em filas intermináveis nos centros estéticos. Não tenho absolutamente nada contra, um pouco de vaidade é necessária, nos faz bem. Mas uma vaidade certa, na medida. Tudo o que é exagero ultrapassa o senso do ridículo.







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