quarta-feira, 28 de julho de 2010
"Blábláblá"
Vivemos buscando respostas para as nossas mais variadas indagações. Procuramos, remexemos, bisbilhotamos até no subconsciente, e quando elas vêm nem sempre as aceitamos.
domingo, 11 de julho de 2010
Presta-se atenção em tudo, no frio que corta o rosto da gente, na chuva que insiste em cair de repente, na roupa molhada, na cor cinza dos dias sem sol. Particularmente gosto de dias assim: cinza e, preferivelmente, em tom escuro.
Em dias assim não temos obrigação em parecermos alegres, não somos expulsos de casa no final de semana porque devemos aproveitar o sol, o sorvete, a farra com os amigos, a paquera descarada, os corpos à mostra. Ficamos na introspecção sem nos sentirmos estranhos por causa disso. O inverno nos obriga a olharmos pra dentro de nós mesmos, e não é de se impressionar que é nesta estação que cresce o número de deprimidos.
A questão não são os dias cinzas, nem o passo largo, nem o peso das roupas que faz aumentar a tristeza típica dos dias glaciais. Na introspeção damos de cara com nós mesmos. E, como é difícil esse encontro. No inverno nos escondemos do outro para nos revelarmos a nós mesmos. Nos revelamos carentes de abraços apertados, de sorrisos que aquecem, de cobertor e filmes, de companhia agradável, de conversa animada ao pé da lareira, de bochecha cor-de-rosa, do pé frio da pessoa amada, do caldinho da sopa, dormir de conchinha...
Quanta coisa boa o inverno pode nos proporcionar, basta que ele seja apenas mais uma estação e não uma condição interior, que por mais calor que se faça podemos estar congelados por dentro. Tudo isso que escrevo mais parece filosofia de boteco, mas serve pra reforçar que desconheço o destino do inverno que fazia aqui dentro!
Sandra Lopes - 11/07/2010.
sábado, 3 de julho de 2010
Mania
Tudo foi tirado do lugar, jogado em cima da cama. Uma confusão de malhas das mais diversas cores. A cama um emaranhado só, de pernas, braços, cheiros. Já reparastes o quanto o guarda-roupa é importante? Não estou falando do seu sentido utilitário, que, sim, é muito útil. No imaginário mais cômico serve até mesmo para esconder o amante desavisado. Fora isso, guarda os nossos medos, segredos, desejos, enfim. Quando criança encontrava nele o esconderijo secreto e perfeito ao fugir da vacina que deveria ser tomada, da visita com a qual não simpatizava, da bronca certa pela traquinagem feita. Foi perfeito enquanto cabia nos compartimentos, quando não sufocava em lugares escuros e apertados. Certamente, foi daí que surgiu esta esdrúxula relação.
Todos temos estranhas manias e essa é só mais uma curiosa, se é que se pode ser chamada, mania.
Lembro-me bem quando foi que comecei a prestar atenção nesta simbólica arrumação. Foi na tempestuosa transição do junto e felizes para separados e talvez menos iludidos. Tudo dobrado: meia com meia. Casacos com casacos. Uma parte só pra camisetas. De um lado as femininas e do outro as masculinas. Nunca gostei de dividir este espaço.
Quanto mais a discussão crescia, mais as roupas pareciam implorar para voltarem aos seus lugares, e de preferência bagunçadas, isso sinalizaria que tudo estava bem. Peça por peça foi sendo arrumada. Quanto mais elas ficavam organizadas mais a confusão aumentava aqui dentro. Por fim o espaço físico masculino deixou de existir. O que era antes reduzido pela divisão deixara uma lacuna, necessitaria de uma nova organização. Por algum tempo insisti na produção impecável, já que tinha um enorme lugar para isto. Organizando tudo, organizaria a mim mesma.
Poderia ser simples arrumar os nossos sentimentos assim como arrumamos o guarda-roupa, mas não é. E esta estranha mania só deflagrou a necessidade de consertar o que não andava bem. Passado algum tempo, compreendi que uma das exigências básicas é a de que guarda-roupa não se divide, cada um deve ter o seu: bagunçado ou não.
Espantosamente me flagrei pensando nisso, em como havia esquecido esta relação entre os sentimentos e o guarda-roupa. Por via das dúvidas, a parte de qualquer perfeccionismo, a bagunça está instalada e os sentimentos organizados. Se estou feliz? Dê uma olhada no meu guarda-roupa, mas não mexa, pois ele é guardião dos meus segredos!