sábado, 26 de fevereiro de 2011



Bar


Chego ao bar e peço algo que me aqueça. Qual bebida seria a melhor opção? Vinho é a decisão mais acertada devido ao frio, que faz tanto fora, quanto dentro daquele ambiente nada familiar.
        
Depois de duas doses qualquer um que seja um pouco fraco para a bebida, tal qual a mim, começa a filosofar acerca de qualquer assunto. Aliás, se pararmos para observar todo “beberrão” é, ou se torna um filósofo(a); não que eu seja um deles. Sou uma boa observadora. Isso, sim!
        
Todo bar tem por trás de si uma quantidade enorme de figuras fantásticas, desde o que está ali para azarar, até o melancólico espantando a solidão. Todos escondem ressentimentos de uma vida mal vivida, de um dia mal aproveitado, todos sem exceção, se escondem por trás de um véu ou máscara que os disfarça. São seres incompreendidos buscando compreensão, se mostram sem se revelarem.
        
Ao ver alguém chegar perto de mim de alguma forma o reconheço familiar. - Boa noite! Diz-me, num tom respeitoso, não por mim, mas pelo que represento ser. Percebe as minhas mãos frias e pateticamente, solta: - Noite fria, mãos frias. Algo mais previsível, ainda, vem como contrapartida: Mãos frias, coração quente! Mal balbucio: -Minhas mãos estão quentes! É o que basta, evitando, assim, qualquer outra abordagem patética.   
        
O gosto da vitória pela flechada fuzilante não trouxe alegria. Poderia ter me sentido vitoriosa por ter dito as palavras certas que afugenta qualquer que se aproxime. Tão eficientes quanto a um repelente. De repente me senti triste, pois nem ao menos considerei a hipótese de que ainda, aquele estranho, pudesse me surpreender.

Paguei a conta e parti dali com a nítida compreensão de que quanto mais o tempo passa nos tornamos mais exigentes em relação às outras pessoas, sem nos darmos conta ou sem termos muitas alternativas, acabamos dando corda à solidão. Transformamo-nos em pessoas exigentes principalmente com nós mesmos. 

O vento cortante que fazia lá fora se misturava com o que, inevitavelmente,  ecoava na minha mente, as palavras ordeiras: a vida é curta, viva, aconteça, queira, vibre e sorria! Mentalmente verbalizo: valeu amigo pelas palavras. Mas, hoje não. Amanhã certamente.     



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